Relato FUGI do CORONAVÍRUS na ITÁLIA e não quero MORRER agora no BRASIL

Eu FUGI do CORONAVÍRUS na ITÁLIA porque CONFIAVA no sistema sanitário BRASILEIRO – infelizmente, estava ENGANADA

Há exatamente 9 dias atrás, parecia um dia normal, acordei bem cedo, tomei café-da-manhã, tomei banho e comecei a gravar as vídeo-aulas de italiano do canal Escola de Italiano para Brasileiros lá no YouTube… Sou a Cristiane, mestre em Farmácia pela Universidade Federal de Santa Catarina, em junho deste ano iriam completar 8 anos que eu morava na Itália.

Porém, uma coisa muito séria mudou, não apenas a minha agenda daquele dia, mas talvez o meu futuro. Gravei o primeiro vídeo (que ainda não tive tempo de publicar), quando fui buscar as imagens do segundo vídeo no meu celular (estava gravando 3 vídeos por dia porque às vezes a internet não funcionava e queria manter constante o fornecimento de material novo diariamente às pessoas que estavam aprendendo a língua italiana no meu canal), recebi uma mensagem de que tinha um caso suspeito de coronavírus perto de Milano (eram 08:30 da manhã, decidi mudar o assunto do vídeo e quando abri o navegador da internet, a cada minuto recebia uma atualização da situação, os casos suspeitos começaram a aumentar significativamente, um caso foi confirmado – imediatamente, peguei o telefone e liguei para a minha mãe no Brasil, onde ainda era madrugada, eu estava apavorada porque já tinha noção do perigo potencial deste vírus mutante, compramos uma passagem aérea imediatamente para eu voltar para o Brasil, arrumei as malas correndo, fiquei trancada em casa até o momento da viagem, apenas percorri 80 km em bicicleta desmontável carregando uma das malas de 30 kg para evitar pegar um trem porque poderia estar contaminado, pedi para amigos me levarem de carro até o aeroporto, em modo a evitar transportes públicos, aguardei no estacionamento do aeroporto até o momento do final do check-in para não permanecer muito tempo dentro do aeroporto, usamos máscaras todo o tempo, usei máscara durante toda a viagem, nos momentos em que iria beber ou comer, mantinha um lenço umedecido com desinfetante para o H1N1 na frente do nariz, procurei não usar os banheiros dos aeroportos e dos aviões durante a viagem, usei máscara no aeroporto de chegada no Brasil e, posteriormente, em uma viagem que fiz em ônibus. Desde que cheguei no aeroporto na Itália, por fora da máscara sempre mantive um lenço umedecido com desinfetante para H1N1 por fora da máscara, prestando muita atenção para trocar de máscara a cada 2 horas e de lenço a cada 15 minutos, limpava as mãos com um destes lenços umedecidos também a cada 15 minutos, mantendo sempre um lenço na mão, também limpava as minhas roupas, cabelos, o espaço do avião perto de mim.
Do mesmo jeito, durante toda a noite e manhã durante a espera pelo segundo vôo em Portugal, usei máscara na rodoviária quando cheguei na cidade onde os meus pais moram, troquei de roupas e calçados, usando luvas (luvas que também usei todas as vezes que precisei tocar em alguma coisa durante a viagem, trocando as luvas a cada utilizo, limpei as malas, mochila e bolsa com álcool, não abracei nem beijei meus pais que não os via a um ano, nem me aproximei muito deles para falar a verdade.
Lembro que quando saí da Itália, eu era vista como uma louca pirada porque todos insistiam em dizer que se tratava de uma influenza mais forte que as outras, eu já tinha percebido que era bem pior que a tuberculose e que as medidas do governo eram parecidas com as da tuberculose e varíola em epidemias de muitos anos atrás. Muitos usavam a justificativa de que a taxa de mortalidade era inferior à da gripe normal, eu ia atrás das taxas de pessoas
internadas em terapia intensiva, entubadas, em reanimação. Todos diziam que apenas os idosos com complicações de saúde morriam, eu pensava que grande parte dos doentes em terapia intensiva poderiam morrer sucessivamente.
Já estou acostumada a pessoas que desconsideram o que eu digo, então escrevi: penso que quem tem o mínimo de amor próprio deve buscar a prevenção!
Cheguei bem no Brasil, em nenhum momento da viagem os passageiros passaram por nenhum tipo de controle sanitário, nem na Itália, nem em Portugal e nem no Brasil.
Na Itália, embarcou um senhor com muita tosse, dificuldade em respirar, febre, náusea, tontura e que não conseguia estar em pé, pedi se era possível controlá-lo e a resposta da funcionária da companhia aérea foi que era para eu estar tranquila que o coronavírus se tratava apenas de uma gripe diferente e que se eu estava com medo poderia ficar longe dele. Chegaram 2 ônibus de turistas que estavam viajando para Milano com muita tosse, alguns usavam máscaras e álcool gel a cada 15 minutos para limpar as mãos durante todo o vôo.
No embarque em Portugal, não tinham passageiros com sintomas de resfriado, chegando no Brasil, a maioria estava tossindo e com o nariz escorrendo.
Durante a viagem de ônibus, muitos passageiros estavam tossindo.
Os funcionários dos aeroportos na Itália e em Portugal não estavam usando máscaras, no aeroporto no Brasil sim.
Até hoje o meu pai está com medo de se aproximar de mim, mas ele aperta a mão e abraça muitas pessoas na rua que não sabe se tiveram contato com pessoas que vieram de algum dos países onde a epidemia é mais forte.
Tenho muito medo de pegar o coronavírus aqui no Brasil ou que meus pais peguem na rua e me passem e depois a culpa seja minha, como se eu tivesse trazido o vírus, continuo medindo a temperatura 5 vezes por dia, sempre com medo do termômetro. Sou medrosa, né?

Algumas horas depois que parti da Itália, onde todos me consideravam pirada, as pessoas passaram a ter ainda mais medo do que eu tinha porque os números começaram a aumentar rapidamente, inclusive a taxa de mortalidade, e muitas pessoas saudáveis, adultos, jovens, crianças foram internados e sobrevivem graças a equipamentos hospitalares.
Todos sabemos a falta de máscaras para comprar, mas alguém mencionou a falta de malas? No dia da minha viagem, comprei a última mala da cidade! O vendedor, que era chinês disse que apenas não iria fugir da Itália quem não tivesse dinheiro…
Quem me chamava de maluca, após 3 horas da minha partida, disse que estava com medo de permanecer e pediu proteção a Deus…
5 dias após a minha partida, essas pessoas estão preocupadas comigo, porque o Brasil diz que está preparado para enfrenter uma epidemia desconhecida, porém continuam a chegar aviões não só da Itália mas também diversos outros países afetados, as pessoas não fazem quarentena.
Sendo que esses aviões não são desinfectados e as pessoas não usam máscaras, algumas dessas pessoas quando chegam no Brasil, viajam nacionalmente com vôos internos contaminando também os nossos aviões.
Todas as pessoas que estiveram em solo italiano estão fazendo quarentena em diversos países do mundo! Por que? Porque todos podem estar contaminados, chegou a este ponto, saiu do controle. Por que? Porque o isolamento e o uso de máscaras demorou 2 dias para começar após a confirmação do primeiro caso!
Quando descobriram que o vírus estava se transmitindo dentro da Itália, em poucas horas, era impossível reverter o caso.
O Brasil poderia usar os exemplos vividos pela Itália para evitar uma situação ainda mais crítica, visto que na Itália agora deve chegar o verão e não existem pessoas que vivem em condições de miséria como no Brasil. Vocês podem imaginar como seria controlar uma epidemia em uma favela?
7 dias, exatamente uma semana após o primeiro caso suspeito de coronavírus na Itália, meus amigos que também pensavam que eu era exagerada me imploram para voltar correndo para lá no primeiro avião porque ainda querem me ver uma vez na vida, até eles percebem que os brasileiros estão brincando com algo muito sério. Não teremos leitos em terapia intensiva se a epidemia realmente chegar até aqui!

TODOS ESTAMOS EXPOSTOS, não importa a idade e como a nossa saúde está!

Possivelmente já existem centenas de pessoas que hospedam o vírus em seus organismos mas ainda não demonstraram sintomas, essas centenas de pessoas contaminam mais de 3 pessoas diferentes por dia, continuam chegando vôos com pessoas hospedeiras do vírus… Como iremos controlar e combater uma epidemia nestas condições?

Escrito o dia 3 de março de 2020.

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